Um Gonçalense na Campus Party e EducaParty : da produção à avaliação

*texto não foi completamente revisado. 


Como é bom participar desse evento. Para os que gostam de comunicação, tecnologia e redes sociais, esse pode ser o processo de maior experiência possível. Um campo aberto, onde milhares de pessoas dialogam da forma que querem, seja no meio digital, no meio dos games ou no meio dito “pessoal”. 

Parece que aqui, as pessoas que compreendem a importância das redes sociais se encontram para marcar não apenas uma série de debates, mas também uma cultura digital que está engolindo as estruturas tradicionais da sociedade. Temos a impressão de que a cultura digital é de maior poder de integração que qualquer outra existente. Seu funcionamento em rede, em formato colaborativo, contribui bastante para isso.

Aparentemente, numa análise extremamente superficial, é que a Campus Party é o marco político de que a cultura digital se relaciona com todas as culturas. Assim como numa escola, percebemos que todas as “tribos” culturais se dão bem sem nenhum problema de preconceitos. Aqui, definitivamente não tem essa de branco ou negro, rico ou pobre. Todo mundo tem acesso igualitário. Cada um tem seu espaço, sua autonomia para se expressar, INDEPENDENTE do seu grupo social. 

Organização do Evento

Não tenho nada a reclamar. Tive tranquilidade na alimentação, na circulação, na segurança dos equipamentos, no respeito, etc. A entrada e saída de equipamentos sendo sempre muito bem monitoradas, as pessoas respeitando a responsabilidade profissional dos staffs do evento e nos cronogramas que funcionaram quase sempre pontualmente, com exceção de um ou outro momento, mas nada que incomodasse. 

Apesar das fortes chuvas da Terça Feira que mexeram um pouco com a estrutura do evento, fez com que eu também lembrasse de que uma boa organização, também deve estar preparada para tudo e ela estava. A Forte chuva que quase derrubou todos os palcos foi uma forma do próprio evento passar segurança dentro sua infraestrutura. Fiquei bem chateado com alguns dos participantes que reproduziram o que mais combatemos na rede que é o sensacionalismo. Muitas pessoas gravaram o episódio para dizer que o evento era uma bosta, porcaria e não entendiam que as chuvas são aspectos naturais que não podem ser previstos, principalmente com a chuva que havia rolado.

A velocidade da Internet também é ótima, pois contamos com uma rede de 20gb, ou seja, quem quiser baixar, compartilhar, fazer upload estará bem tranquilo para isso. Nesse quesito, a única coisa que me deixou um pouco desanimado é a rede sem fio, que caso adicionada, poderia ser um ganho considerável para o evento. Descentralizando dos ambientes de cabo a galera e consequentemente dando ainda maior conforto para os participantes, além é claro de que ficar procurando cabo no chão é um porre. Talvez o receio da organização era que isso pudesse dispersar a galera do acampamento e eles optarem por ficar na internet lá, mas ainda sim, não consigo encontrar um bom argumento para esse detalhe.

Inclusão Social


Se for parar para pensar na responsabilidade social, honestamente não vejo o evento como um processo inclusivo. Apesar da Campus Party ter sido excelente, não é todo mundo que consegue ter acesso. O evento, aparentemente, me lembra de um encontro entre uma nova classe média muito conectada com a tecnologia e com as classes mais altas, pois não são todos que podem viajar com um computador, que possuem um laptop, um tablet, que podem pagar a viajem para São Paulo, além do preço de inscrição que era bem alto, etc.

Isso não fere o evento, até porque não é sua proposta. Creio que a responsabilidade de replicar as experiências são das pessoas que participaram desse evento. Óbvio que a experiência que vou passar não é a mesma experiência de quem esteve no evento, mas já é um pouco para se construir um debate mínimo sobre tecnologia. 

Outro detalhe importante em relação à inclusão digital foi a falta de relacionamento entre os campuseiros. Apesar das palestras serem sensacionais, pois abordam temas extremamente específicos e importantes para o dia a dia da cultura digital, existem poucos espaços de debate entre os participantes. Parece que nesse sentido, a proposta da Campus é muito mais expor sua concepção sobre cultura digital, que propriamente debater sua concepção para se chegar numa nova avaliação. 

Relação entre Educadores X Educandos

Que o professor é uma das figuras mais importantes da sociedade, ninguém pode negar.  Dizer que o professor pode salvar ou matar uma vida também ninguém pode negar, mas como anda a relação dos professores e educadores com os alunos e educandos? 

Aqui, pelo fato de ser um evento extremamente organizado para potencializar a cultura digital, as pessoas que não estão no dia a dia dessa cultura, acabam ficando à margem do relacionamento digital. Não conseguem se aproximar, não conseguem se apropriar e principalmente, não conseguem dar conta de tanta informação que esse choque cultural trás. 

Na apresentação do EducaParty, ouvi um número gigantesco de professores falando que não sabem se é positivo jovens ficarem nas redes sociais, jogando por muito tempo e que isso poderia leva-los para um caminho negativo. Alguns tinham o receio de que as Redes Sociais poderiam ser mais destrutivas que benéficas. Entendo a preocupação, mas não existem argumentos que sejam consistentes e sustentem esses comentários por muito tempo.

Me parece, que a maioria das pessoas um pouco mais velhas(não todos) , tentam colocar a Rede como um mundo paralelo e que você está nela ou fora dela, sem meio termo. A falta de contato com a rede, faz com que eles a utilizem como ferramenta e não como um hábito cultural, logo, não compreendem a cultura digital. Eu fiz uma pergunta para uma professora de qual é a diferença de fazer fofoca pelo chat do facebook ou na esquina de casa, ela não soube responder. A rede, a internet é o meio e não o objeto, logo, é um veículo e cada um, usa de acordo com sua necessidade. 

Percebo também que por mais boa vontade que exista por parte dos educadores, eles raramente dão conta de se relacionar com a cultura digital. Geralmente usam a tecnologia para continuar sendo tradicionais. Óbvio que já é um avanço, mas não é o suficiente para a velocidade que as coisas funcionam. A cultura digital, a tecnologia e especialmente as redes sociais contribuem para amplificar tudo. Os alunos vão conseguir conversar mais nas salas de aula, vão conseguir zoar mais um ao outro, mas também vão aprender mais através dos sites colaborativos. Ótimo exemplo é o Wikipédia, que ampliou a cola nas escolas, mas fez com que os alunos pelo menos passassem a pesquisar ao invés de apenas copiar do amigo do lado. E se algum professor falar que a cola é ruim, saiba que se a maioria do mundo já a fez, ela faz parte da cultura mundial e não de um erro mundial.

Creio que o debate da educação dentro da Cultura Digital é, antes de tudo, CAPACITAR OS PROFESSORES! Não adianta professor vir com papo de Paulo Freire se não sabe fazer conta no Facebook. Antes de tentar inserir o debate conceitual e teórico da pedagogia, o professor tem a responsabilidade de conhecer o meio em que os alunos vivem. De que adianta passar música do Caetano Veloso se os alunos escutam Emicida? De que adianta passar documentário cult se os alunos assistem vídeos produzidos no celular? De que adianta a escola levar aluno para a sala de informática para usar o Word se o aluno já está organizando aplicativos avançados no celular? Não são os alunos que tem que se adaptar a realidade do professor e da escola e sim a escola e os professores tem que se adaptar a realidade dos alunos.

Entretenimento além do digital


Tá! Isso faltou. Apesar do evento ser sobre Cultura Digital, vejo que ele se prendeu apenas a isso. Seria como num seminário de Culinária as pessoas só tivessem programação de fazer comida e comer, nada além. Faltou um ambiente de debate entre os campuseiros, faltou ter bandas para tocar e animar a galera. Resumindo, faltou programação para tirar a galera de frente do computador. 

Esse tipo de método de evento, faz com que as pessoas criem estereótipos do mesmo. Na maioria dos veículos de comunicação, estão colocando o evento como se fossem vários nerds que ficam na internet o tempo todo. Isso é babaquice, pois os veículos usam esse termo para ridicularizar um determinado grupo social. A Cultura Digital não é restrita para a galera que joga games online, hackers e pessoas que ficam muito em rede social. A Cultura Digital é aberta para qualquer um. Se você tem uma banda e utiliza da rede para potencializar o trabalho, você está na cultura digital. Se você é um empresário e investe recurso na produção de conteúdo da sua empresa na rede, você está na cultura digital. 

Que na próxima Campus Party, possamos ter uma programação diferenciada que movimente as pessoas. Maratonas que tenham a haver com movimentação física, atividades de campo, passeios fotográficos pela cidade, reuniões para debater os rumos das redes e enfim, tirar a galera de frente dos monitores, celulares e tablet’s para discutir os rumos desses mesmos monitores, celulares, etc.

EducaParty, suas contradições são seus benefícios

Dentro da Campus Party, ocorreu o EducaParty, organizado pelo Instituto Educa Digital que visou tratar dessa questão tecnológica com uma pegada dentro da educação. É óbvio que a dificuldade de agregar esses dois temas é grande, pois a maioria da sociedade ainda não está nem habituada com uma educação de qualidade e nem com tecnologia de ponta. 

Duas questões me chamaram muita atenção dentro desse evento dentro da CPBR5. As questões que chamaram atenção foram os eventos que iniciaram e terminaram a EducaParty. Já comentei no tópico “Relação entre Educadores X Educandos”, mas ficou visível como mesmo nas classes A e B de professores e alunos, existe um atraso de relação social gritante. De um lado os professores carregando todas as suas tradições e do outro os alunos completamente desapegados nessas tradições construindo e reconstruindo no dia a dia sua própria cultura.

Vários professores comentaram que os alunos perdem tempo ficando tanto tempo na rede, que não sabem por que ficar tanto tempo jogando, que não conseguem entender porque os alunos ficam tanto tempo no celular na sala de aula, etc. Do outro, os alunos comentam sobre a falta de tato dos professores, da falta de atenção e da falta de relação e reconhecimento de conhecimento que esses alunos trazem. É uma grande contradição entre gerações. 

O EducaParty é importante a medida em que pode construir esse choque geracional, mas se mostra problemático, quando não apresenta a discussão sobre o tema. Nem sempre as ferramentas que os professores podem usar em sala de aula ou fora, são suficientes para dar conta das variações culturais que esses alunos possuem. A escola não muda, continua formando massas de jovens que não tem nenhuma responsabilidade crítica. São todos preparados ou para ir para o mercado de trabalho ou para passar no vestibular, distorcendo a realidade e o papel que a escola possui. Logo, as redes sociais cumprem esse papel, onde eles podem ter liberdade de expressão e vivenciar um espaço legitimamente livre. 

Adorei a oportunidade de participar e conseguir consolidar ainda mais meu papel enquanto jovem na sociedade, lutando para inserir a Cultura Digital e as novas formas de relacionamento em rede para os mais velhos e para as instituições. Apesar dos processos mudando, também é importante que os sistemas políticos das empresas e instituições também mudem. A educação tem que dialogar com as novas tecnologias e com as novas formas de expressão, caso contrário, a evasão escolar e o não reconhecimento da figura do professor só se ampliará e de forma cada vez pior.

O Debate sobre educação é tecnologia, em minha opinião, é esse. Tentar resgatar o professor para a contemporaneidade e fazer com que o aluno seja protagonista de sua própria história, sem depender de uma figura repressora como ainda temos na educação brasileira. Os professores, ainda que sejam importantíssimos, cumprem um papel de detentores do poder do conhecimento, o que é uma balela. Os professores são mediadores das discussões de conhecimento. Devem trazer a bagagem do aluno e refinar seu aprendizado. Enquanto um professor pensar no aluno enquanto alguém que não tem nada a contribuir, a escola continuará formando jovens que abominam a escola. Resumindo, a rua é melhor que a sala de aula.

Conclusão

As políticas culturais, educacionais, tecnológicas e de comunicação no Brasil precisam se preocupar com o médio e longo prazo. Se não houver políticas que gerenciem essas relações com os jovens, certamente iremos criar anomalias irreversíveis. Enquanto a Cultura e Educação são hábitos que se constroem coletivamente, a tecnologia e a comunicação são ferramentas que dependem dos avanços geracionais, criativos e intelectuais das pessoas. Se o Estado e as empresas não avançarem nos investimentos nos projetos voltados para aproximar os hábitos das ferramentas, continuaremos produzindo apenas entretenimento e nada de produção imaterial de qualidade.

Não adianta chegar numa comunidade depois que o problema já está instalado. Enquanto as empresas e a gestão pública só investir em projetos que estão nos eixos da capital, para ter maior visibilidade, vão perder a possibilidade de ganhar mercado por um preço bem mais barato nos projetos que estão iniciando aos poucos em municípios fora da capital. Além disso, tem que investir em quem mais precisa. Sair daquela coisa de investir em intelectuais ricos e passar a investir nos intelectuais da cultura popular, que de fato, são responsáveis por mudar os hábitos sociais. 

A Campus Party me deu uma visão geral e superficial daquilo que pode ser um problema ou uma solução nos próximos anos. Vi, no evento, as futuras lideranças das áreas tecnológicas e de comunicação do Brasil, mas não vi nenhuma tentativa de fazer com que eles se direcionem para pensar em políticas de responsabilidade social. Os debates foram ótimos, mas só estavam lá os mais velhos, com exceção das mesas de mídias sociais que sempre tinham muitos jovens. Trazer eles para os debates é fundamental, mas os educadores NÃO QUEREM debater jogos, redes sociais, bebida, sexo, drogas, moda, música. Precisamos disso, se não, o bagulho vai ficar doido, vamos perder a oportunidade de usar a rede em defesa dos bens sociais e não apenas como uma ferramenta.

4 comentários:

  1. Parabéns, Romário!

    Fico muito orgulhoso de saber que, em São Gonçalo, os jovens estão muito bem representados por uma pessoa antenada tecnologicamente e de visão sociológica responsável.

    Esses eventos são ótimos para ampliar a visão de mundo e qualificar a missão daqueles que desejam uma sociedade mais contextualizada com os novos tempos.

    Saiba que você tem uma missão muito bonita em nossa cidade, portanto, jamais retenha seus conhecimentos, mas, sim, os compartilhe para que os jovens gonçalenses possam sempre beber da sua fonte.

    Grande abraço e muito sucesso pra você!!!

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    1. Tem vários jovens que são responsáveis com nossa cidade. Precisamos cada vez mais dar voz para esses caras. É bom lembrar sempre de onde veio. Sempre faço questão de dizer. Qualquer lugar, palestra, trabalho que faço e perguntam de onde sou, eu digo "sou de são gonçalo", rs.

      Você é um desses também vagner, que estão representando bem nossa cidade, lá na frente, muita gente vai agradecer, ou melhor, continuar agradecendo

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  2. Muito bom seu texto Romário!
    Você conseguiu fazer um panorama consciente e crítico de todo evento. Continue escrevendo porque vou continuar acompanhando seu blog, e vou compartilhar este texto aqui. O melhor para mim, de tudo, foi ter conhecido pessoas como você.

    Abração

    Talita Moretto

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    1. Oi Talita, tudo bem? Obrigado por ler o texto e obrigado por fazer parte de um projeto interessante também. Pessoas como você constroem o dia a dia das comunicações do nosso país. Fiquei feliz de ouvir seu trabalho e vou esperar bem animado as edições que ficou de mandar, tá bom?

      obrigado de verdade!

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