Record e o Carnaval: Boicote ou opção de programação? [Um debate sobre o Sistema da TV Brasileira]

Para quem não esta curtindo tanto a madrugada no carnaval, nos resta a TV ligada babando da curtição dos outros, não é? Pois bem, nesse sentido, ontem publiquei um post perguntando se a Record estava boicotando o carnaval ou não, mas num tom extremamente de curiosidade, para saber o que as outras pessoas achavam. O tema, em suma foi simbólico, mas gerou esse debate abaixo.


Não sei se dá para ler, mas todo o debate foi em cima dos "boicotes" que as emissoras acabam fazendo durante diversas programações, seja no carnaval, no rock'n rio, no futebol, nas mobilizações de massa, na política, etc. Fica claro que existe uma grande insatisfação por parte de todos os telespectadores que sempre criam uma expectativa de que a programação da TV irá contemplar seus anseios. Isso nunca acontece, e vou tentar, baseado na minha concepção, porque isso ocorre.

Legislação Brasileira

A legislação brasileira é extremamente atrasada, culpa de nossos deputados, que simplesmente optam por representar seus interesses pessoais ao invés dos interesses coletivos, mas o exagero é tanto que a legislação brasileira que regula o funcionamento de nossa TV Comercial é de 1950, ainda no período em que o Brasil começava a popularizar a TV em cores. 

Tá, mas o que isso quer dizer? Isso quer dizer, que ainda funcionamos com uma legislação que não dá conta das TV's a Cabo, da Internet, do Celular, das novas tecnologias, do crescimento populacional, das mudanças da música, cultura, hábitos, etc. É como se você fosse no seu armário agora e pegasse uma roupa, baseado na moda da década de 30. A roupa iria funcionar normalmente que é para te tapar, mas tudo em sua volta não se adaptaria a sua realidade, pois os tempos são outros. 

Ainda sobre a legislação, você sabia por exemplo, que só em 2002 que o Brasil regulou a entrada de capital estrangeiro dentro das empresas de comunicação no Brasil? Isso quer dizer que simplesmente vivemos TODA NOSSA VIDA sem nenhuma regra de investimento e isso é um dos principais fatores que nós consumimos tanta cultura estrangeira, graças ao investimento que eles fizeram em programas, comerciais, inserção de músicas, filmes, etc. 

No meu ponto de vista, a legislação brasileira é a principal responsável por criar esse mal estar dos telescpectatores. Por mais que façamos críticas às empresas de comunicação, emissoras, jornais, etc, devemos levar em consideração que eles estão jogando de forma legal, pois a legislação permite, logo, a responsabilidade de nossa TV, passa a ser muito culpa de TODOS os Ministros da Comunicação que o Brasil já teve e dos Deputados Federais e Senadores que não se comprometem a discutir essa legislação.

Sobre a legislação, te pergunto: "Bom senso é lei?"

A TV é veículo ou objeto cultural?

Porque você toma tanta Coca Cola? Come tanto no MC Donald's? Usa tanta roupa da Nike, Adidas? Assiste tanta Novela? Não perde um capítulo de "Dois Homens e Meio", etc? A TV, sobretudo no Brasil, deixou de ser apenas um objeto para veicular programas. Um bom exemplo é a Cultura Digital, que ainda está começando a se moldar em nosso país e que por isso, faz da internet, ainda ser visto apenas como um veículo, ou seja, você pode ver TUDO e mais um pouco que passa na TV através de seu computador e a hora que você quiser, mas a Televisão é um objeto de prazer cultural, imaterial e não é tratado como veículo, por isso, o apego de nós, brasileiros para ter uma novela, um jogo de futebol, um programa sentado no sofá é inigualável. 

Nós paramos de consumir o programa e passamos a consumir o ambiente que vemos o programa. Muito tempo atrás, na concepção do Ministério da Cultura, um dos debates era de que a produção dentro da TV e sua regulamentação, deveria ficar na Cultura e não na Comunicação, pois a TV, ao longo do tempo, passou a ser patrimônio Cultural, não é a toa que você pode encontrar uma casa sem comida, sem remédio, mas sem TV ainda é difícil.

Hoje a disputa política do Senado, da Câmara dos Deputados e da Sociedade não são as emissoras, mas sim o conteúdo, logo, não é um processo de discussão de comunicação e sim cultural. Ou você ainda acha que a carnificina dos programas de meio dia em alguns canais são produtos de comunicação ou venda cultural da morte?

Pluralidade, democratização, novos conteúdos, inserção das classes emergentes não são e nunca serão processos de veiculação e sim debates políticos que mechem nos hábitos de nossa sociedade. Será que se em toda novela, em todo programa de auditório ao invés de Mulheres Brancas de cabelos lisos, tivéssemos mulheres negras de cabelos enrolados isso mudaria algo na aceitação e no problema racial que nosso país passa? 

Fator Internet

Para além da Legislação e da própria mudança cultural, temos o fator internet, que sem sombra de dúvida foi  o que impulsionou todo esse debate. Talvez, sem a internet, o mundo fosse se globalizar de forma mais lenta, afinal, hoje, com a rede, você pode saber o que ocorre em outros lugares de forma muito mais clara e em tempo real. Os filtros são menores do que o da TV e isso faz com que você tenha maior número de informações e se sinta em dado momento, desprestigiado por uma ou outra emissora.

Os Blogs, as Redes Sociais a multiplicação de sites de informação fez com que nos tivéssemos uma bomba em nosso dia a dia. Saber de tudo o tempo todo virou mais que uma necessidade e sim uma obrigação. De um lado, isso é positivo trazendo diversas informações com pontos de vista diferentes, mas no lado negativo, faz a gente ficar chato achando que sabemos tudo o tempo todo, o que é uma grande mentira, não sabemos nada apenas através de informação.

Se você aguentar esse texto, até aqui, lembre-se de que está lendo um conteúdo de opinião pessoal, com responsabilidades pessoais. Será que todo esse meu texto dá conta da complexidade do Sistema de TV Brasileira? Ou para fazer essa análise, precisaríamos de um antropólogo, um sociólogo, um jornalista, um historiador, um engenheiro, um tecnólogo, ... 

Ainda sobre o parágrafo anterior, a internet traz essa variedade de pontos de vista, mas não se enganem com a qualidade do conteúdo e a veracidade das informações, sempre pode ter uma banana para você escorregar. Use a internet de forma muito cuidadosa, se não acabará sendo manipulado por uma ou outra forma de informação.

A internet tem sido realmente importante para a transformação social, ela anda acelerando muitos processos que demoravam mais a rolar. As grandes mobilizações no planeta, as novidades políticas, a nova forma de consumo através da quebra de intermediários e principalmente a comunicação. Organizá-la é fundamental e entendê-la também. Ela já está mudando a TV e se você não percebeu, repare por exemplo nos grandes "Artistas" da web que estão indo para a TV e os "Artistas" da TV que estão sendo obrigados a também fazer trabalhos na web. A REDE, como nós, da Cultura Digital começamos a chamar os processos integrados e colaborativos que a internet trouxe, percebemos que a TV necessidade desses mesmos processos e a tendência, CASO a legislação brasileira ajuda, é a melhora significativa da programação.

Meu Ponto de Vista

As emissoras de TV ganham dinheiro a séculos através desses sistema. Eles acabam tendo uma parcela de culpa muito pequena, pois estão dentro da lei que as organiza. A nossa bandeira de luta, na maioria das vezes não é contra uma emissora X ou Y, mas sim contra a legislação Brasileira. Assim como a industria fonografia sobrevive de um sistema a TV também vive de um sistema que tem sua legislação atrasada.

Reclamamos de hoje, pois temos condição de rebater uma programação graças as Redes Sociais, mas pouco nos preocupamos em produzir conteúdos transversais. Se você está insatisfeito com a programação sobre seu município, vá para a rua e grave, tire fotos do que você acha importante para publicar na internet. Reclamar por reclamar não gera debate. Se na praça perto da sua casa tem um mega artista cantando toda terça feira, vá lá, grave e publique na WEB, se aquilo fizer sucesso na internet, certamente a TV irá cobrir depois.

Pressione com as armas que você tem, que você pode usar. Quer boa programação cultural na TV? Mande e-mails, faça campanhas na web para a galera mandar e-mails em conjunto, faça mobilizações prepositivas na sua cidade e não apenas reclame por reclamar. Escreva bons textos, com bons argumentos, etc. Estamos num momento importante de transição da comunicação, logo, ser superficial nas críticas, não levará a nada. Ou você lembra do deputado que votou para questionar sobre as votações que não ocorrem, ou você produz conteúdo de qualidade ou que pontue algo bacana e importante, ou iremos continuar reféns da programação tradicional que grande parte das emissoras trazem para nós.

Carnaval, Pinheirinho, Mobilizações no Rio e tudo mais.

Como disse no começo, esse post sai de uma pergunta que fiz. Mas vou pontuar só essa questão de publicar ou não uma matéria sobre os assuntos polêmicos do Brasil. Sobre o rapaz que fez greve de fome e que eu compartilho de sua defesa sobre o caso de pinheirinho, eu perguntaria a ele se ele algum dia já falou mal dele para alguém? E ai eu pergunto a vocês... vocês falariam mal de vocês mesmo? 

Não podemos tratar as emissoras de TV como se fossem entidades espirituais invencíveis. A disputa da sociedade é bem além. Se você tem um jornal e alguém faz um ato contra você na sua emissora, você iria publicar? Seja honesto.

Se você tem uma empresa que tem um dono religioso, porque ele iria publicar tanta coisa sobre o Carnaval?  Gente, é óbvio que não vão e isso é PERMITIDO no jogo político, social, de informação e tudo mais, logo, volto ao tópico inicial, onde a responsabilidade é da Câmara dos Deputados e do Senado. Não adianta, é o sistema que tem que mudar. Quem cria os regulamentos não são as emissoras, lembrem-se disso. Apesar delas serem fortes o suficiente para dialogar com o legislativo, o voto é secreto e se você vota em pessoas que não querem que o sistema mude, o sistema vai continuar sem mudar.

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