Pixação X Grafite [em São Gonçalo]


Hoje, encontrei no facebook de meu amigo André Correia, um post com imagens da Praça dos Ex-Combatentes com grafites e pixações sobre os monumentos históricos do local. Ele sabe que eu sou uma das pessoas que defende e contribui para a Roda Cultural que ocorre por lá. Nesse sentido, gostaria de levantar um debate sobre Grafite X Pixação em nossa cidade.

Antes de tudo, vale lembrar que a pixação é uma forma de expressão muito antiga. Desde a pré história, podemos colocar a pixação como algo existe, até porque a pixação é o registro de palavras, protestos, insultos ou expressão em locais públicos, sejam eles de convívio comum privado ou público.  Nesse sentido, desde que o mundo é mundo, a pixação existe. É claro que a pixação sempre foi um movimento criminalizado, sobretudo pelo conceito de público e privado que nossa sociedade nunca conseguiu discutir direito. Por isso, não podemos colocar a pixação como uma atividade sem razão, sem motivo e sem construção histórica. 


Também temos o Grafite, que diferente da pixação, possui uma raiz histórica encontrada na pintura e desenho. Sua diferença não é só a questão do desenho, mas da aptidão para se fazer algo. Existe uma relação onde qualquer grafiteiro pode ser pixador, mas nem todo pixador pode ser grafiteiro. Partindo disso, já percebemos que o Grafite não é uma evolução da pixação, mas sim uma expressão diferente e que hoje em dia não é mais criminalizada.

São Gonçalo sempre teve esses dois segmentos socioculturais muito fortes! Ambos criminalizados também, pois o significado e referência cultural desses segmentos é diferente. Quase sempre de uma minoria criminalizada no mundo inteiro que geralmente é o Funk e Hip Hop. Pegando esses segmentos, temos um histórico social de isolamento político e social, pois os bens públicos nunca chegaram até esses grupos. Escola, hospital, polícia e todas as outras referências de Estado para esses movimentos eram sucateados ou nem chegavam, sendo assim, não tem como reconhecer o Estado como uma instituição bacana e legal.



É! Se o estado não é bacana e legal, ele então é chato. Além disso, o Funk e o Hip Hop nunca foram beneficiados pelo Estado, pois o mesmo nunca deixou que eles tocassem, se apresentassem, captassem recursos além de tantos outros pedidos negados pelos grupos. A partir daí, a repressão social ao Estado ficou grande. Não tem porque você prezar pela instituição que não preza por você e ai a Pixação e o Grafite foram na contra mão do senso comum e passaram a questionar o estado a partir de expressão.

Muito pouco tempo atrás, ninguém cedia muros para que os grafiteiros pudessem grafitar. Os grafites eram feitos de forma ilegal em qualquer muro que pudessem. E eu pergunto, qual a diferença da pixação para o grafite se o dono daquele muro não liberou o espaço? Quase nenhuma! A diferença é que ao longo do tempo o grafite passou a ser reconhecido como arte e a pixação como vandalismo. Um foi descriminalizado e o outro não. Eu, pessoalmente, defendo quase sempre os dois, com algumas ponderações.

Caso da Praça dos Ex Combatentes:

Quando um jovem pixa um monumento público não é apenas vandalismo, mas também falta de reconhecimento sobre o significado do monumento. Se grande parte dos militares ao longo da história bateram, agrediram, ameaçaram todos esses grafiteiros e pixadores. Digo isso não apenas pela sua expressão, mas também pelo fato de morarem num lugar criminalizado, pelo fato de não se vestir como a sociedade "padrão" pede, eu pergunto, porque os grafiteiros e pixadores iriam respeitar os monumentos que falam desses mesmos?

Ainda sobre praças, eu gostaria de perguntar... porque na Praça Zé Garoto, o Palhaço Carequinha nunca foi pixado nem grafitado? Talvez, ele nunca tenha sido alvo porque as pessoas reconhecem sua importância, reconhecem sua relação com a cidade e sabem quem é ele. É uma questão de se importar. Muitas vezes a culpa não é deles e sim da falta de estrutura social para essa compreensão. 



André fez o questionamento, pois conhece a história da Praça dos Ex Combatentes, mas a maioria da cidade não.. A Culpa é da escola, que não fala sobre a história da cidade, a culpa é do Estado que não dialoga com setores criminalizados achando que são menores e da relação social que NÃO ABRE DEBATE PARA NADA! Todo mundo reclama da pixação quando ela está no seu muro, mas nunca fala com o filho quando ele pixa no seu caderno, na cadeira da sala de aula. Isso é trajetória. Esse jovem não vira pixador da noite para o dia, cabe à sociedade organizar e gerenciar isso. Pensar em políticas públicas que façam com que esses jovem reconheçam a importância dos patrimônios da cidade e que continuem a pixar, sendo que com responsabilidade social.

E AH! Não é só a pixação não, mas também o grafite. Um jovem que grafita hoje, não começou do nada. Ele desenhava nos cadernos, nos CD's, no computador até chegar até o muro, mas também nunca teve interferência do estado para desenvolver sua arte e sua consciência sobre patrimônio, por isso vemos muitos grafites que só fazem referência a morte, tristeza, problemas sociais. Falta organizar, gerenciar, dar luz à todos.

2 comentários:

  1. Um texto altamente elucidante em relação a esse tema, parabéns! Através das correlações sociais marginalizadas citadas por aqui, eu também cresci, e era um dos muitos que ao invés de copiar o dever no quadro, ia lá fazer a minha assinatura de um personagem oculto que nascia em uma folha de caderno, e era em si mesmo a crítica direta a opressão! Talvez quando o dever virar prazer, e a escola pública for prioridade para os nossos governantes a nossa história comece a mudar. Evoluímos em quanto sociedade de uma maneira muito feia, mas evoluímos... se foi feia, o reflexo dessa história vai sempre estar estampado em nossos muros! Querem muros limpos? Escrevam uma história limpa dessa vez...

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  2. Otimo texto, informação é fundamental e isso falta bastante em nossa cidade e não é de hj.

    Parabens ROmario! Abrç!

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